terça-feira, 21 de junho de 2011

Cheberle

Há algum tempo deparei com o raro sobrenome Cheberle.

Verifiquei que não ocorre na Alemanha, e é de poucas pessoas na Itália. Caso eu estiver certo, temos mais uma bela história de família.

Há no Brasil, descendentes de imigrantes Cheberle vindos de San Biagio di Callalta, Treviso
(cidade gêmea, Santa Tereza, RS)

Na ocasião, salvei parte de um texto dum site que agora está fora do ar.

Relato obtido por Luciano Cheberle, de seu pai Élio Cheberle.

Sempre conheci meu pai pelo nome de César , que ele dizia ser a tradução de SCHERMUZERICH , seu nome de batismo. Ao procurar documentar-me, para adquirir a cidadania italiana, descobri, com surpresa, que o nome registrado em sua Certidão de Nascimento era SARMENSELINO e que ao entrar no Brasil, aos nove anos, constava na Certidão de Desembarque o nome SARMENTELLO , que é o diminutivo de SARMENSELINO, na língua italiana. Ao procurar na Paróquia de Treviso sua Certidão de Batismo, encontrei , no livro de registros , com a data de 18 de dezembro de 1884, o assentamento no. 37 , consignando o nome SCHERMUZERICH. Por informação de parentes , este nome é de origem austríaca, em virtude da região Vêneta ter sido dominada pela Áustria por muitos anos.”

E.... Meu sobrenome CHERBERLE, registrava um “R“ a mais na primeira sílaba, por engano de Cartório, quando fui registrado, em Poços de Caldas (MG), minha cidade natal...e continua "

Chama atenção o nome de batismo não italiano. Explicação dada, conforme texto acima, seria por causa do domínio austríaco na época.

No registro civil o nome é italiano.

Li que os poderes austríacos ignoraram minorias étnicas, apoiando a italianização.

Assim é compreensível a imposição no civil, e a opção no religioso.

Porque optariam por este nome?

E se este nome fosse de sua língua materna?

Ao invés de mera influência, haveria justificada motivação.

Por isto merece atenção a possibilidade de a família Cheberle pertencer ao grupo dos Cimbros.

Possibilidade esta reforçada pela existência do sobrenome Cheberle na região do Asiago.

Talvez houvesse uma relação com a família Rodrighiero, a mais tradicional das Setti Communi.
Para compreender minhas considerações é necessário conhecer pelo menos alguns aspectos da história de colonizações ocorridas a partir do século XI, na região do Veneto.

Colonizações por alemães bávaros. Agora também chamados Cimbros,sendo que não devemos confundi-los com tribos celtas.

Neste caso a denominação vem do alemão, Zimmerer, daí Zimbern (dialeto Zimberisch) designando os que trabalham com madeira. Como veremos, forneciam madeira para a construção naval em Veneza.

Os chamdos cimbrios vieram do sul da Bavária, convidados pelo arcebispo de Verona, para povoar partes de Veneza e Trentino. No início povoaram o altiplano de Asiago (Setti Communi) e depois se espalharam para o norte de Verona (13 Comunidades), Trentino e em menor número em outras províncias. Sobre a travessia dos Alpes, veja sobre a Via Cláudia Augusta.

As Sete Comunidades em tempos históricos formavam uma república autonoma.

Em 29 de junho de 1310 foi proclamada a soberna República das Sete Comunidades.

Durou quinhentos anos, a maior parte do tempo sob proteção da República de Veneza, à qual forneciam madeiras para a construção naval.

Em 1807 Napoleão aboliu esta autonomia, e em 1815 a região passou ao poder da Áustria, integrando o Reino austríaco Lombardo-Veneziano.



Desconhecendo as condições do Alti-plano (Asiago) a administração austríaca introduziu o italiano como idoma escolar e adminsitrativo, conduzindo à italianização (em regiões de minorias étnicas).


Muitas famílias de Asiago sofreram grandes perdas patrimoniais com as ações de Napoleão.

Destas famílias, várias se mudaram então para a região de Cansiglio, Treviso.

Cansiglio é na região de onde vieram Cheberle ao Brasil.

Como em qualquer família, parte mantem as tradições ou permanece nas terras de seus antepassados, e outros se espalham.

Embora no Asiago o tempo parece que parou, os que de lá sairam e se espalharam tendem a perder o uso do idioma Zimbrisch.

Alem das referências ao nome Cheberle, em Asiago, encontrei o do Paroco Giuseppe Cheberle, Paroquia del Carmine em Pádua, onde nasceu. E, um Café em Veneza, de Girolamo Cheberle. (Diocese de Pádua compreendia as Províncias de Padova, Belluno, Treviso, Venezia e Vicenza.)

O Cimbrio (Zimbrisch) é o mais antigo dialeto alemão ainda existente.

No processo de italianização, pelo qual os sobrenomes foram adaptados (lembrando que havia nomes já grafados na forma latina, vindos da Alemanha – devido ao uso do latim no Sacro Império Romano Germanico) acrescentar um “C” seria tão factível quanto erraram aqui no Brasil incluindo um “r” no sobrenome conforme o relato acima colocado.

Deve ser levado em conta que no italiano não há “h” pronunciado.

Exemplo de mudanças nas grafias de sobrenomes é o da já mencionada família Rodegieri, advindo de Rodeger (alemão).

O Zimbrisch é quase uma língua em si. Tem esta classificação, com as variedades indicadas:








Há cursos disponíveis, como este básico, que nos dão uma idéia do Zimbrisch.

E algumas dicas para turistas, como som de “ch”.
Tambem neste link.

No Brasil, houve entre os imigrantes alguns que falavam o Cimbro.

É ocaso de moradores de Antonio Prado, RS como pode ser visto neste estudo.

Interessante observar os mapas: 7 Comuni ( Vicenza), 13 Comuni (Verona), várias regiões

cimbri, cansiglio, San Biagio de Callalta, proximidade S.B.Callalta de Fregona (Cimbri),

outro belezas de Fregona.

Curiosidades:
Freqüência do sobrenome Cheberle, na Itália (raro, experimente Rossi!)

Hoje, nas montanhas são praticados esportes, em lindíssimas paisagens.
Exemplo: Ecomaratona dei Cimbri

Veja continuação em Cheberle-2 (Bottacin).

E ainda, complemento.

Espero que, alem do que aprendi, possam minhas pesquisas serem de proveito aos Cheberle, em suas buscas.

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